Oito integrantes acusados de compor rede de pedofilia são presos pela Polícia Federal


Grupo procurava nas redes sociais garotos de Bilac, Braúna, Clementina e Santópolis do Aguapeí

31/10/2016 15:33 - Atualizado em 09/11/2016 17:11 | Por: Otávio Manhani

Otávio Manhani/Jornal Comunicativo

A Polícia Federal de Araçatuba prendeu neste mês de outubro oito pessoas acusadas de integrar uma rede de pedofilia e pornografia infantil que atuava na região. O caso teve repercussão nacional.

De acordo com as investigações, os acusados procuravam garotos com idade entre 10 e 17 anos nas redes sociais para praticar relações sexuais, os quais residem nas cidades de Bilac, Braúna, Clementina e Santópolis do Aguapeí. As vítimas, segundo a polícia, são de família de baixa renda.

Segundo as investigações, os pedófilos ofereciam dinheiro, passeios, lanches além de presentes, como bonés e calçados às vítimas. O grupo de aliciadores promovia festas e encontros em chácaras e pousadas da região, assim como mantinham relações sexuais com as vítimas em canaviais e estradas de terra.

No processo iniciado pela Justiça, nove garotos foram identificados como vítimas dos aliciadores. No final de 2014, a mãe de um dos meninos ficou sabendo dos fatos e denunciou o caso à Polícia Civil, ao Ministério Público de Birigui e à Polícia Federal.

Na época, a mãe de um dos meninos desconfiou do comportamento do filho de apenas 10 anos, morador de Santópolis do Aguapeí. Como ela não conseguiu muita informação com o filho, solicitou ajuda para uma amiga de 31 anos, que conversou com a criança, a qual, posteriormente, confirmou estar sendo abusada sexualmente.

Presentes

Ela conta que estranhou os presentes caros que os menores recebiam, incluindo um sofisticado aparelho de celular. “Pude colocar pra frente [a denúncia] porque a mãe me deu autorização. Porque tem muitas mães que passam pelo mesmo fato e têm vergonha e de represália devido a cidade ser pequena”, declarou a mulher.

Assim que tomou conhecimento do episódio, a mãe da vítima denunciou o caso às autoridades competentes, as quais iniciaram as investigações e descobriram que este caso fazia parte de uma rede de pedofilia que abrange nos municípios vizinhos.

A mãe do garoto disse que o homem se aproximou da família e fez amizades com os amigos do filho. “Ele começou a ir em casa e pegou amizade. Parecia uma pessoa boa, realista, verdadeira. Muito bonzinho mesmo. Mas eu jamais iria achar que ele teria coragem de fazer uma coisa dessa”.

Já o menino - que hoje tem 13 anos e disse ter sido assediado quando tinha 10 anos - conta que tudo era feito em troca de presentes. “Ele me dava dinheiro, já me deu boné, óculos, celular. Ele me levava para o motel de Buritama”, relatou a vítima.

As investigações se concentram na cidade de Birigui, onde é apontada a existência de uma rede de pedofilia complexa. Entre os acusados está um professor aposentado de 69 anos. A quebra de sigilo telefônico dos aliciadores, autorizada pela Justiça, revelou detalhes de como os pedófilos faziam para ganhar a confiança das vítimas.

Pessoas próximas

Outro garoto de 15 anos, também morador de Santópolis do Aguapeí, relatou ter sido vítima dos aliciadores. O adolescente disse ainda que seu agressor - que, inclusive, trabalha com seu avô - também já foi vítima de pedofilia. “Ele [pedófilo] também já sofreu abuso com vários outros [aliciadores]. E agora ele pratica isso com as vítimas. Ele [me] prometia coisas e não dava”, declarou a uma emissora de televisão.

A mãe do menino de 15 anos disse que certo dia o filho ao invés de ir à escola foi para a casa de um amigo, onde estava o aliciador e, de lá, ele chamou o adolescente para ir pescar. “Deu meio dia e nada [de o garoto chegar à escola]. Aí encontrei meu filho e o cara [aliciador] num córrego dizendo que iam pescar”, relatou a mãe de uma das vítimas.

“As mães das vítimas foram na Polícia Federal, assim como as vítimas foram junto comigo. Este rapaz, que hoje tem 19 anos, que hoje é aliciador, também foi na Polícia Federal, assim como uma pessoa da cidade vizinha de Braúna”, frisou a mulher de 31 anos.

Além de pedofilia, estupro e corrupção de menores, os acusados também respondem na Justiça por associação criminosa e aliciamento de menores.

Precaução

Em breve entrevista ao Programa Balanço Geral, da TV Record, a psicóloga Adriana Botarelli disse que a maioria das vítimas de pedofilia se sente culpada mesmo quando são adultas. “É muito frequente crianças serem abusadas em casa, por familiares. É importante que desde muito cedo os pais tenham uma conversa franca e se posicionem como acolhedores e protetores dos filhos”, reforçou.

A psicóloga orientou que os pais observem qualquer mudança de comportamento nos filhos, ou se percebem alguma lesão; se a criança fica insegura ou tímida de um momento para o outro; se quer só ficar em casa.

“As vítimas vão precisar de um acompanhamento psicológico. Na vida adulta pode gerar uma incapacidade de interação social adequada ou da vítima virar um agressor (como relatado por uma das vítimas)”, observou a psicóloga.