Otávio Manhani/Jornal Comunicativo
Pais de alunos, cujos filhos estão matriculados na educação infantil e fundamental da rede municipal de ensino de Piacatu, estão preocupados com a retirada do transporte escolar às crianças residentes na cidade. O transporte permanece normal na zona rural.
A decisão tomada pela Prefeitura tem tirado o sono de vários pais de alunos. É o caso da manicure Elaine Arriero, 30 anos, que tem uma filha de 4 anos matriculada no Pré-II da Emei Profª Ivone Vendrame Cardoso. Ela mora a 500 metros da escola onde a filha estuda.
Ao Comunicativo, Elaine diz que nos próximos dias mudará para outra casa, cuja distância será de 1,5 quilômetro da escola onde a filha estuda. Esta distância já é percorrida pela dona de casa Neuza do Carmo Ferrareto, 50 anos. Ela cuida de uma menina de 3 anos, que também estuda na Emei.
“Levo ela para a escola de bicicleta, pois a menina reclama que não aguenta ir andando. Depois o pai dela, quando chega do trabalho, vai buscá-la”, conta Neuza.
Em sua página do Facebook, a manicure diz estar “indignada com as autoridades de Piacatu, que colocam as crianças de 4 e 5 anos para andar à pé no sol”. Ela cita ainda que as crianças que moram no bairro Colinas Park “tem que andar mais de dois quilômetros”, as quais chegam à escola cansadas e suadas. “Isso é um desrespeito com a população”, frisa Elaine.
A opinião da manicure na rede social foi compartilhada por alguns membros, os quais comentaram sobre o assunto. Pessoas que sequer têm filhos e outras que nem moram no município manifestaram apoio à Elaine.
Entre os comentários postados na rede social, uma prima da manicure, Márcia Arriero, 31 anos, que também tem uma filha de 5 anos matriculada na Emei, disse estar indignada com a medida adotada pela Prefeitura. Porém, ressalta que participa de reuniões na escola.
“Fiquei preocupada. As crianças não respeitam os monitores do ônibus. A mãe de um aluno foi na escola dizer à direção que teriam que pagar uma roupa nova para uma criança, dizendo que rasgou no ônibus. Todos os dias crianças voltam dentro do ônibus pra escola porque as mães não estão no ponto para pegar seus filhos. E quando a direção liga pra avisar [os pais], ainda perguntam se não tem como levar a criança em casa. (...) É um descaso com o próprio filho”, avalia Márcia.
PREFEITURA ALEGA FALTA DE VERBAS PARA MANTER TRANSPORTE AOS ESTUDANTES DA ZONA URBANA
A Divisão Municipal de Educação de Piacatu enviou uma nota de esclarecimento ao Comunicativo para explicar o motivo que fez com que a Prefeitura retirasse o ônibus que transportava alunos da cidade às escolas municipais.
O documento esclarece que a Prefeitura oferece transporte escolar gratuito para todos os alunos moradores da zona rural que frequentam a educação infantil, ensino fundamental e médio, da rede municipal e estadual de ensino.
Para isso o município de Piacatu, firmou convênio com a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo e recebe recursos financeiros do PNATE (Programa Nacional de Apoio ao Transporte Escolar). Porém, a dirigente municipal da Educação, Neuza Aparecida Ramos Paganini, informa que tais recursos só podem ser utilizados no transporte de alunos que residem na zona rural (sítios, chácaras e fazendas).
Neuza explica que atualmente o transporte é realizado por três micro-ônibus para as rotas dos bairros: Lontra (50 km), Córrego Comprido (30 km), Stivanelli (66 km) e Jangadão (68 km), totalizando 214 quilômetros diários (ida e volta), sendo que as rotas e os alunos residentes na zona rural são cadastrados no site do GDAE (Gestão Dinâmica da Administração Escolar).
“Na zona urbana o município recebe recursos apenas para o transporte de alunos portadores de deficiência, e esse transporte é realizado por uma perua Kombi adaptada para atender as necessidades desses alunos”, acrescenta Neuza.
QUANDO COMEÇOU
O transporte escolar para alunos de Piacatu que residem na cidade em bairros longe das escolas teve início em 2011 e continuou em 2012 e 2013. No entanto, essas despesas foram custeadas com recursos próprios do município.
De acordo com o documento enviado ao Comunicativo, “além dos custos, foram ocorrendo outros problemas, tais como: o comportamento inadequado dos alunos nos ônibus durante o trajeto: brigas, discussões, apelidos, cabeça e braços fora do ônibus nas janelas, descer do ônibus pela janela, e muitas vezes correndo, atravessam ruas sem olhar para os lados e também algumas mães de alunos da Pré-Escola (4 e 5 anos) que não estavam nos pontos de ônibus e os motoristas tinham que levar as crianças de volta para a escola”.
Durante esses três anos, Neuza conta que foram adotados procedimentos como: trabalho voluntário de mães, monitor/estagiário para acompanhar os alunos no trajeto do transporte, encaminhamento aos pais de comunicados sobre as regras que deveriam ser cumpridas pelos alunos durante o trajeto, reuniões de pais bimestrais relatando os problemas ocorridos e aplicação de advertência aos alunos, visando a resolução desses problemas.
No final do ano passado, foram realizadas reuniões na Emef Prof. Eládio Rosseto e Emei Profª Ivone Vendrame Cardoso para explicar aos pais sobre a decisão de não oferecer esse transporte urbano a partir de 2014. A medida visa evitar que ocorra algo mais grave. “Portanto, nenhum pai de aluno foi pego de surpresa com esta medida”, reforça Neuza.
A dirigente municipal da Educação diz ainda que a maioria dos pais que participaram da reunião entendeu que o principal motivo que levou a suspensão do transporte escolar foi devido a falta de recursos financeiros, além “de uma responsabilidade muito grande que vinha sendo assumida pela Prefeitura e escolas do município”.
TRANSPORTE NA REGIÃO
O Comunicativo entrou em contato com as secretarias municipais da Educação onde o jornal circula. Assim como Piacatu, o município de Gabriel Monteiro e Santópolis do Aguapeí também não oferece transporte escolar aos alunos da zona urbana. O serviço é oferecido apenas aos estudantes da zona rural e aqueles que são portadores de deficiência.
Já a Prefeitura de Bilac e Clementina disponibilizam transporte escolar para os estudantes que moram em bairros distantes das escolas.
A secretária municipal da Educação de Bilac, Maria de Lourdes Baraldi Abraão, diz que a Prefeitura oferece diariamente três ônibus que percorrem três bairros do município para transportar os estudantes. “Cada bairro há mais de um ponto de ônibus”, ressalta.
A diretora do departamento municipal da Educação de Clementina, Leontina Maria dos Santos Ribeiro, diz que a Prefeitura disponibiliza ônibus para todos os alunos da rede municipal de ensino. “Desde a creche até o 5º ano do ensino fundamental”, reforça.