Otávio Manhani/Jornal Comunicativo
A décima edição do carnaval de rua de Piacatu deixou a desejar. Esta foi a opinião unânime dos líderes dos blocos carnavalescos que participaram do Carnavenida 2010, que aconteceu entre os dias 12 e 16 deste mês no calçadão da cidade, em frente à Prefeitura, com animação da banda Somos Iguais.
Neste ano, o setor da Cultura preferiu fazer um “teste” com os grupos: retirar as provas surpresas (que eram ditas durante o evento para serem apresentadas na noite seguinte), os bonecos gigantes de Olinda (PE) e a prova mais esperada do Carnavenida, que é a noite da gata molhada.
Com a alteração, dois dos blocos que participaram do carnaval de rua de Piacatu no ano passado desistiram da disputa, inclusive o bloco carnavalesco “Os Avontades”, que foi campeão em 2009 pela quarta vez.
Para o líder do grupo, Fábio de Souza Ferreira, 25 anos, entre os motivos que levaram a equipe a não participar do carnaval neste ano foi devido a falta de estímulo por parte da premiação, considerada baixa (R$ 500).
Outro pretexto citado por Ferreira foi de que “não compensa pular cinco noites e não ter a certeza de que ganharia o primeiro lugar”. Com relação a retirada das provas, o líder dos “Os Avontades” diz que para quem coordena o grupo foi bom, mas, para o evento, não foi uma boa ideia.
Sobre o resultado deste ano, ele dispara: “Quando participamos do Carnavenida, os outros blocos parecem que se animam mais vendo nossa agitação, querendo competir de fato. Neste ano, observei que teve bloco que tinha tudo para vencer em primeiro lugar, mas acabou empatando”, referindo-se ao grupo dos “Os Haspôneis”.
E continua: “Eles só põem pressão quando estamos na avenida. Geralmente alguns blocos tentam cassar confusão com a gente na tentativa de desclassificar o grupo, mas não caímos nessa”. Ferreira segue dando um recado a todos os blocos: “Preparem-se para o ano que vem, porque vamos entrar com tudo para levar o quinto título”, encerra.
Outro bloco que deixou de entrar na avenida foi a “Galera de Marte”. O líder do grupo, Naytson Nascimento Pereira de Oliveira, 18 anos, informou que devido “a falta de premiação desmotivou a equipe na disputa”. Neste ano, foi premiado em R$ 500 apenas o primeiro lugar, que acabou empatado entre “Os Malvados” e “Os Haspôneis”.
Oliveira ressalta que quando falta uma boa premiação, diminui o interesse dos participantes. “Houve uma redução até no movimento da festa”, completa. Para ele, a premiação deve ser feita para os três blocos que mais agitam no evento para melhorar a interação entre o público e a banda.
O líder da “Galera de Marte” ainda disse que internamente o grupo sofreu um “racha” e adianta que provavelmente em 2011 os integrantes da “Galera de Marte” vão se separar para montar dois ou três blocos, podendo um deles permanecer com o mesmo nome.
AVALIAÇÃO
Para o líder do bloco “Os Haspôneis”, Rodrigo da Silva, 20 anos, a mudança feita pelo setor de Cultura foi bom para os coordenadores dos grupos, que tiveram “menos dor de cabeça para organizar a equipe em cada prova solicitada nos anos anteriores.
No entanto, para o evento como um todo, ele avalia de forma negativa tal alteração devido o Carnavenida já ter tomado proporção regional. “As provas surpresas é que animavam o carnaval. Com a retirada delas, muitas pessoas aguardavam a prova da ‘gata molhada’, que é o foco do evento”, acrescenta Silva.
O líder do bloco “Os Malvados”, Alisson Junior do Nascimento, 14 anos, informa que compartilha dos mesmos ideais de Silva com relação à “dor de cabeça para lidar com a equipe” quando há as provas surpresa, embora reconheça que o evento deixa a desejar com a ausência delas.
Questionado sobre as mudanças desta edição do Carnavenida, o líder do bloco “Os Rural”, Tiago Brigatti, 23 anos, também concorda que, para o grupo, a retirada das provas surpresa “tirou um peso das costas”. Porém, enfatiza que o valor da premiação poderia ser melhorado para que outros blocos fossem premiados.
Brigatti acredita que “premiar mais que um grupo estimula a competição entre os blocos”. Ele também sugere que algumas provas sejam refeitas, que fossem mais fáceis.
O representante do grupo dos “The Loves”, Luiz Eduardo Ferreira da Silva, 26 anos, confirma o que os demais líderes disseram: que o Carnavenida deste ano perdeu a essência.
Como sugestão para o próximo ano, ele cita primeiramente que a premiação deve ser revista pelos organizadores, principalmente a questão do valor. “Uma quantia maior motiva que blocos da região também se interessem pelo evento”, opina.
O líder do “The Loves” ainda sugere que o setor da Cultura faça pesquisa na cidade e região para saber o que melhorar no Carnavenida. “O movimento do carnaval neste ano foi bem mais fraco que em anos anteriores. Creio que mais investimentos e divulgação seriam uma das alternativas”, conclui.
Em entrevista ao Comunicativo, o dirigente cultural de Piacatu, Elio Siqueira da Rocha, diz que a experiência em retirar as provas foi válida, mas ressalta que, com isso, os blocos de uma forma geral perderam sua identidade.
Rocha reconhece que a mudança acarretou na perca de qualidade do evento, mas já adianta que para o próximo ano as provas irão voltar. “Vamos refazer e acrescentar novas provas com o auxílio dos representantes de blocos”, completa.
Além de voltar com as provas surpresa durante o evento, o dirigente cultural reforça que já está em fase de estudo por parte do governo municipal “levar algo a mais para o Carnavenida”, mas prefere não adiantar detalhes.