Otávio Manhani/Jornal Comunicativo
Um estudo realizado pela direção da Emef Prof. Eládio Rosseto, de Piacatu, mostra o sentimento de ausência afetiva dos pais para com os filhos. Para chegar a esta conclusão, 473 alunos da instituição escreveram em uma folha de papel tudo aquilo que eles esperam de seus pais. O resultado foi chocante.
De acordo com os dados fornecidos pela direção escolar, 76 alunos (16%) pediram aos pais “carinho”, 14% querem “amor” e 7% desejam “mais atenção” dos pais. Mas os pedidos não param por ai. (ver quadro)
Quase 10% dos alunos pediram para os pais “não bater” e “não brigar” com eles. Já 4% deles esperam “mais respeito” e outros 2% anseiam que os pais tenham “paciência”.
Há também alunos que sonham com a tranquilidade dentro de casa, onde 4,6% deles pediram “paz” e, quem sabe um dia, receber “beijos” dos pais. Muitos, sequer, são beijados pelos pais no dia de seu aniversário.
Em escala menor, alguns alunos pedem que o “papai não bebesse” e que ele “volte com a mãe”. Entre os anseios também está que “ensine uma religião”, pedem “menos xingamento” e, inclusive, sugerem aos pais “parar de fumar”.
Para o psicólogo Fabrício Otoboni dos Santos, o levantamento reafirma tudo aquilo que já ouviu quando atende as crianças. “Antes da aplicação da pesquisa, imaginávamos que os anseios dos alunos seriam basicamente estes mesmos, mas, para nossa surpresa, a quantidade de alunos com carência afetiva foi maior que a esperada”, avalia.
Diante dos números, o psicólogo chama a atenção dos pais sobre o abandono dos filhos, independente da classe social de cada um. “Se por um lado a falta de dinheiro é uma das desculpas por parte dos pais para justificar a falta de amor com os filhos, também há aqueles que têm boa situação financeira e tentam sanar a falta de amor pela compra, ou seja, dá algum brinquedo para o filho e deixa ele isolado num canto da casa, sem dar atenção”, acrescenta Santos.
A professora-coordenadora pedagógica Maristela Zupiroli cita ainda a desestrutura familiar, afazeres domésticos e excesso de trabalho dos pais como alguns dos fatores que dificultam a tão desejada atenção dos pais para com os filhos.
Um ponto mencionado por Maristela foi a questão da tarefa escolar. “O professor exige a tarefa dos alunos, mas se ele [aluno] não tiver o apoio dos pais, possivelmente não conseguirá realizar a tarefa sozinho”, pondera.
VALORIZAR OS FILHOS
Para o diretor da Emef e idealizador da pesquisa, Luiz Antonio Navacchio, de nada adianta a escola fazer sua parte e os pais não dar sua contribuição com o aprendizado dos filhos. “Eles devem fazer a parte de pais, que a escola complementa”, avisa.
“É nítido que a falta de carinho reflete negativamente no processo de aprendizagem da criança. Para reverter este quadro, uma das alternativas é valorizar os filhos. A criança tem que se sentir amada”, afirma Navacchio.
Segundo o diretor, o levantamento foi apresentado aos pais durante uma reunião na própria escola. “Mesmo aqueles pais que não puderam comparecer na reunião, todas as crianças colaram o resultado da pesquisa no caderno e eles [os pais] tiveram que assinar. Assim não tem como dizer que não ficou sabendo”, ressalta
Durante a reunião de pais em que foi apresentado o resultado da pesquisa, a direção escolar também quis saber o que os pais esperam de seus filhos. Para isso, foi entregue um papel para que escrevessem. Assim como ocorreu com os alunos, foi pedido que ninguém se identificasse.
De acordo com Navacchio, a maioria dos pais se demonstrou preocupados com o rendimento escolar e comportamento dos filhos. O resultado deve ser divulgado nos próximos dias.
Após o recesso escolar, o diretor informou que fará outra pesquisa com os alunos, de modo que eles respondam “o que esperam dos professores” e, posteriormente, o que os docentes “esperam dos alunos”.