Otávio Manhani/Jornal Comunicativo
Apesar de Gabriel Monteiro ser uma das quatro cidades da região de Araçatuba com taxa de homicídio zero desde 2001, segundo dados da Secretaria estadual de Segurança Pública, o município lidera a lista de denúncias de tráfico de mulheres no país, conforme dados divulgados este mês pela Secretaria de Políticas Públicas para Mulheres, da Presidência da República.
De acordo com o levantamento do governo, o município de Gabriel Monteiro foi o que mais proporcionalmente fez ligações ao “Ligue 180”. Com uma população de 2.790 habitantes, segundo estimativas do IBGE, a cidade registrou 40 ligações.
Para a Secretaria de Políticas Públicas para Mulheres, isso mostra a importância da interiorização do programa. Segundo a ministra-chefe da Secretaria de Políticas Públicas para Mulheres, Eleonora Menicucci, 80% dos registros do município são ligações de informações gerais, em geral a respeito da Lei Maria da Penha.
Além de Gabriel Monteiro, a lista de denúncias de tráfico de mulheres é encabeçada por municípios com menos de dez mil habitantes, como Rio Doce (MG), com menos de três mil habitantes; e Amapá (AP), com oito mil habitantes.
Dados nacionais
Em todo o Brasil, o número de denúncias de tráfico de pessoas para a Central de Atendimento à Mulher (Ligue 180) subiu 1.547% no primeiro semestre deste ano, segundo números divulgados pela Secretaria. Em 2012, o serviço registrou 17 denúncias do tipo. Já neste ano foram 263, sendo 173 casos internacionais.
De acordo com a ministra Eleonora, o aumento se deve à realização de operações da Polícia Federal contra quadrilhas de tráfico de pessoas.
“Houve a partir desse desbaratamento, um aumento de denúncias de tráfico de pessoas no primeiro semestre, sendo 173 de casos internacionais e 90 no Brasil. Ou seja, o aumento é assustador. Na realidade do problema e é absolutamente positivo do ponto de vista da busca e da procura por um atendimento”, ponderou Eleonora.
Segundo a ministra, duas operações da Polícia Federal partiram de denúncias ao “Ligue 180”, sendo uma em junho do ano passado e outra em janeiro deste ano. As investigações levaram aproximadamente seis meses. “As prisões demoram. Os processos são lentos”, disse.
Dentre os casos de tráfico internacional, 129 denúncias se referiam à exploração sexual, 42 de exploração de trabalho e dois casos de remoção de órgãos. Dos relatos de tráfico interno, 64 eram de exploração sexual, 25 de exploração de trabalho e um caso para fins de adoção.
O “Ligue 180” também fez 31 atendimentos internacionais, realizados por brasileiras que vivem em outros países, sendo 15 habitantes da Espanha, dez na Itália e seis em Portugal.
Disque 180
Segundo a ministra, até dezembro deste ano o Ligue 180 deve se transformar em Disque 180. Com um investimento de R$ 25 milhões, o governo pretende montar uma plataforma para agilizar as denúncias, direcionando no instante da ligação o telefonema para a Polícia Civil ou Ministério Público.
“Cada denúncia, cada relato de violência sofrida, vai se transformar em uma denúncia que será investigada. A mulher vai à delegacia diz que está com ameaça de morte, o juiz demora quase 30 dias para expedir uma ordem de proteção, pede atestado psicológico, e, quando a medida chega, a mulher já morreu”, ressaltou Eleonora.
Com a mudança, a ministra acredita que o atendimento será melhor. “Nós não perderemos as mulheres. O disque é muito mais eficaz e ágil”, completou Eleonora.
Repercussão
A prefeita de Gabriel Monteiro, Renée Crema Vidoto (PSDB), se demonstrou surpresa com os dados divulgados pela Secretaria de Políticas Públicas para Mulheres. Por outro lado, ela disse também estar satisfeita em saber que o município possui uma população esclarecida e vigilante dos seus direitos.