Otávio Manhani/Jornal Comunicativo
Pouco - ou nada - se foi feito para ampliar e conscientizar a participação dos moradores de Piacatu na separação dos materiais recicláveis do lixo doméstico nos últimos dez anos.
Desde que o projeto municipal Piacatu Reciclando foi implantado, em 20 de maio de 2008, a quantidade de materiais recicláveis recolhidos pela Prefeitura é praticamente igual.
Conforme o Comunicativo divulgou em junho de 2008 - um mês após a implantação do Piacatu Reciclando -, foram recolhidos no primeiro dia da coleta seletiva do lixo a quantidade de 170 quilos de materiais recicláveis e 20 litros de óleo comestível usado.
Dez anos se passaram e a quantidade continua a mesma. De acordo com dados fornecidos pela Seção de Meio Ambiente de Piacatu, atualmente o município recolhe 250 quilos destes materiais.
Porém, 30% do que é recolhido é descartado. Ou seja: são aproveitados aproximadamente 175 quilos do que a Prefeitura recolhe semanalmente, que corresponde à mesma quantidade de quando começou a coleta seletiva, em 2008.
Quem confirma esta informação é o aposentado Manoel Muniz, 68 anos. Ele trabalha na compra e venda de materiais recicláveis há aproximadamente 15 anos, ou seja, bem antes de o município implantar a coleta seletiva do lixo.
“Entre os poucos moradores que contribuem com a separação do lixo reciclável, alguns ainda não sabem diferenciá-lo. Toda semana tenho que separar o que realmente é reciclável e descartar o restante. É comum encontrar fralda descartável usada entre os materiais recicláveis”, explica Muniz.
A coleta seletiva do lixo em Piacatu acontece às terças-feiras. Como poucos moradores participam, os funcionários da Prefeitura encerram a coleta por volta das 11h e descarregam o material recolhido em um barracão da Prefeitura, que fica localizado atrás do Cemitério Municipal Emílio Spadari, o qual está cedido à Manoel Muniz.
Considerando que Piacatu possui uma população de 5.922 habitantes - conforme estimativas do IBGE 2018 - e produz 2,85 toneladas de lixo ao dia, em média cada morador gera 0,481 gramas de lixo diariamente, segundo dados fornecidos pela Seção Municipal de Meio Ambiente. O Projeto Piacatu Reciclando não visa lucro.
De acordo com a Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais), o Brasil produziu 78,6 milhões de toneladas de lixo em 2014. A estimativa é que cada brasileiro produz, em média, 383 quilos de lixo por ano, segundo a Abrelpe.
Aterro sanitário de Piacatu está com os dias contados
O aterro sanitário de Piacatu começou a ser utilizado em maio de 1999. Até então, o lixo doméstico recolhido na cidade tinha como destino um lixão a céu aberto, localizado atrás do Cemitério Municipal. Na época, os funcionários colocavam fogo no material após a coleta.
Quase duas décadas se passaram e a vida útil do local está com os dias contados. O último descarte de lixo doméstico no local deve ocorrer no início do mês de agosto deste ano e a Prefeitura não possui um local na cidade autorizado pela Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental) para descartar o lixo.
A alternativa do governo municipal foi recorrer ao município vizinho de Santópolis do Aguapeí, que recentemente ativou um novo aterro sanitário, localizado na estrada municipal STA-273, no bairro rural Mundo Novo.
No início deste mês, os vereadores da Câmara de Santópolis do Aguapeí aprovaram um projeto de lei encaminhado pela Prefeitura, o qual autoriza o município a receber os resíduos sólidos urbanos da cidade de Piacatu até 31 de janeiro de 2021.
O prazo autorizado para o descarte do lixo doméstico de Piacatu é o mesmo (2,5 anos) que foi utilizado pelo município de Santópolis do Aguapeí no aterro sanitário de Piacatu.
Coleta seletiva do lixo tem que ter incentivo constante
Mesmo tendo implantado o Projeto Piacatu Reciclando há dez anos, é fundamental que a Prefeitura realize junto aos moradores um trabalho informativo eficiente, que incentive uma participação maior na separação de materiais recicláveis.
Os municípios vizinhos de Clementina e Gabriel Monteiro, por exemplo, disponibilizam aos moradores sacos plásticos transparentes e com tonalidade vermelha para a coleta seletiva. Isso faz com que diferencie do lixo doméstico, que geralmente é descartado em sacos plásticos preto.
Ao recolher os matérias recicláveis, os funcionários das Prefeituras de Clementina e Gabriel Monteiro deixam um novo saco plástico para que o morador continue a separar o lixo reciclável.
Outra medida que poderia ser adotada pela Prefeitura de Piacatu é com relação aos varredores de rua. Em todas as cidades, é comum encontrar embalagens vazias de bebidas em vias públicas. E esses funcionários não são orientados na separação do lixo orgânico daquele que pode ser reciclável.
Se a gestão municipal for ousada, pode adotar em alguns pontos do município o “bueiro inteligente”, que é uma caixa coletora de resíduos. A ideia, além de evitar que os bueiros entupam, reduz a quantidade de lixo que é carregado pela água das chuvas até os rios. No caso de Piacatu, as águas pluviais tem como destino o Córrego Bela Vista, o qual deságua no Rio Aguapeí.
Também não é de hoje que estudantes durante o trajeto de ida e volta das escolas jogam embalagens em vias públicas ao invés de jogá-las no lixo. As escolas até orientam em datas específicas, como o Dia do Meio Ambiente, comemorado no dia 5 de junho. Mas orientar somente nesta data não tem sido o suficiente.
As escolas de Piacatu até possuem lixeiras específicas, onde os alunos podem jogar plásticos, metais e papel. Porém, o Comunicativo apurou que estes materiais não têm como destino a coleta seletiva, mas, sim, são recolhidos com o lixo comum e enviados ao aterro sanitário.
Alguns estudantes até devem jogar os materiais nas lixeiras imaginando que terão como destino a reciclagem dos mesmos. Mas na prática não é isso que tem ocorrido. Falta mais empenho de todos, sem exceção (alunos, funcionários, professores e quem realiza a coleta).
Quando o Projeto Piacatu Reciclando foi implantado em 2008, a Prefeitura havia dito à reportagem que tinha a intenção de adquirir uma prensa para compactar os matérias recicláveis. Dez anos se passaram, e sequer alguém ouviu falar em adquirir a tal prensa.
A Prefeitura, juntamente com os setores e população, precisa abraçar verdadeiramente esta questão.