Em cinco anos, Piacatu reduz casos de leishmaniose visceral canina em 55,8%


Apesar de casos da doença estar em queda pelo país, Estado de SP vê doença se aproximar da capital

25/04/2018 14:33 - Atualizado em 22/07/2018 18:11 | Por: Otávio Manhani

Divulgação/Prefeitura de Piacatu

Funcionários coletam amostra de sangue de cão para análise

Entre 2013 e 2017, o Departamento de Vigilância Sanitária e Controle de Zoonoses de Piacatu registrou uma queda de 55,8% nos casos de leishmaniose visceral canina. A informação foi divulgada pela coordenadora do órgão local, Tamiris Fagundes Rodrigues.

De acordo com os dados apresentados, que são resultados dos inquéritos caninos realizados no município nos últimos cinco anos, é possível perceber uma redução significativa nos casos positivos da doença.

Em 2013, das 833 amostras de sangue coletadas em cães para detectar a leishmaniose visceral, 156 animais tiveram o diagnóstico positivo, o que representa um índice de 18,7%.

Já em 2017, foram coletadas amostras de sangue de 932 cães. Destes, 87 apresentaram diagnóstico positivo da doença, ou seja, 9,3% dos animais avaliados. Portanto, de 156 cães infectados em 2013 para 87 animais contaminados em 2017, o município teve uma redução de 55,8%.

Conforme informou Tamiris, tanto em 2013 quanto em 2017 foram realizados dois exames para comprovar se os animais realmente estavam infectados com a leishmaniose visceral.

EM HUMANOS

A leishmaniose visceral atinge tanto cachorros quanto humanos. É uma doença causada por um parasita e transmitida ao homem pela picada do flebotomíneo infectado (popularmente conhecido como mosquito-palha ou birigui).

Segundo dados fornecidos pelo órgão local, nos últimos dez anos o município de Piacatu registrou três casos de leishmaniose visceral em humanos, mais especificamente em meninas.

Em 2008, uma adolescente de 12 anos foi infectada com a doença. Já em 2010, a leishmaniose visceral foi detectada em duas crianças, sendo uma de um ano de idade e outra de quatro anos.

De acordo com Tamiris, as três meninas realizaram exames, tratamento e acompanhamento médico na época e, atualmente, estão curadas da leishmaniose visceral e mantém uma rotina normal.

PROJETO COLEIRA

Em maio de 2003, a Prefeitura de Piacatu, em parceria com a Sucen (Superintendência de Controle de Endemias), implantou o Projeto Coleira com o objetivo de detectar a leishmaniose visceral em cães do município.

Na ocasião, todos os cães foram cadastrados e amostras de sangue dos animais foram coletadas e enviadas para análise em um laboratório. Os cães que apresentaram o resultado positivo tiveram que ser sacrificados.

No entanto, os animais que não estavam com a doença receberam uma coleira repelente, de fabricação francesa, com durabilidade de seis meses de uso. Após esse período, novas amostras de sangue foram coletadas dos cães e, novamente, os que apresentaram resultado positivo foram sacrificados.

Na época, a Prefeitura conseguiu uma segunda remessa de coleiras repelentes, cujo material foi utilizado. O Projeto Coleira foi acompanhado tanto pela Prefeitura quanto pelo governo estadual e ocorreu apenas em 2003. Porém, a coleta de amostras de sangue dos cães para análise deram sequência, mas sem a disponibilidade da coleira repelente.

NOVAS AMOSTRAS

O Departamento de Vigilância Sanitária e Controle de Zoonoses de Piacatu informou que no mês de junho iniciará uma nova coleta de sangue dos cães.

RECOMENDAÇÃO

A dispersão da leishmaniose visceral ocorre por meio da proliferação do mosquito-palha e o ambiente próximo aos imóveis também propicia a disseminação da doença.

“É fundamental que ocorra a limpeza, o recolhimento das fezes dos animais diariamente, a eliminação de matéria orgânica (folhas, grama seca, galhos e frutos podres) e realização de manejo ambiental para evitar ambiente excessivamente sombreado”, recomenda Tamiris.

SINTOMAS

As manifestações clínicas no cão são caracterizadas por febre irregular, falta de apetite, emagrecimento, descamação da pele, feridas na pele, conjuntivite, fezes sanguinolentas e crescimento das unhas.

Já no ser humano as manifestações clínicas são caracterizadas por febre de longa duração, perda de peso, fraqueza, aumento do fígado e do baço, anemia, e queda de plaquetas. O SUS disponibiliza tratamento para pessoas infectadas com a leishmaniose.

Leishmaniose se espalha pelo Estado de São Paulo e avança para a capital

Mesmo registrando queda na quantidade de casos pelo Brasil, a leishmaniose visceral se espalhou pelo Estado de São Paulo e avança para a capital. A informação foi divulgada no dia 4 de março deste ano pelo jornal Folha de S.Paulo.

De acordo com a reportagem, as cidades de Araçatuba e Birigui foram as primeiras do Estado a notificar casos autóctones em 1999. Somente no ano passado, 97 municípios (15% do total) já tinham registros. Em 18 anos são quase 3.000 casos da doença.

No Brasil, a leishmaniose visceral se dispersou seguindo a construção da ferrovia Novoeste (1952), da rodovia Marechal Rondon (SP-300), em 1988; e do gasoduto Bolívia-Brasil (1998), quando alcançou a região central paulista (Araçatuba e Bauru).

Trata-se de uma doença crônica e de evolução sistêmica. A maioria das pessoas infectadas não desenvolve a leishmaniose visceral. Porém, quando não diagnosticada e tratada a tempo, ela mata em 90% dos casos. Até o momento não existe vacina que previna a doença.

Pesquisa contra a leishmaniose ganha atenção de pesquisador da Nasa (EUA)

O pesquisador PhD Jeffrey C. Luvall, da Nasa (Agência Nacional Americana), esteve em Bauru (SP) no final deste mês para conhecer a pesquisa “Encoleiramento Inverso”, que tem por objetivo combater a leishmaniose visceral sem eutanasiar os cães infectados.

Normalmente as coleiras com deltametrina são utilizadas em cães saudáveis como método preventivo para espantar e matar o mosquito-palha. Porém, nesta pesquisa, as coleiras estão sendo colocadas em cães infectados.

A proposta da pesquisa é comparar os índices de acordo com as normas do Ministério da Saúde. Para isso, os animais serão monitorados durante um ano.

O projeto é pioneiro no país e foi aprovado pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP (Universidade de São Paulo) - parceira da pesquisa - e Instituto Adolfo Lutz.